Da preguiça ao preguiçoso

getty_497000240_970622970450047_82767

 

Notando o que nos refere Dalai Lama sobre a preguiça, dizendo que “Nós acostumamo-nos com facilidade à preguiça da mente, sobretudo porque muitas vezes essa preguiça se esconde sob a aparência de actividade: corremos de um lado para outro, fazemos cálculos e telefonemas. No entanto, tudo isso ocupa apenas os níveis mais toscos e elementares da mente. E oculta o que existe de essencial em nós.” é importante perceber que o nosso “carnaval da vida”, onde o ocupacionismo, tema já referido nestas Coscuvilhices é a maior das máscaras e aquela que socialmente nos é exigido que ponhamos.

Assumirmos-nos a nós para nós é algo muito complicado e de um complexidade extrema, por isso mesmo acabamos por ser um nós nos outros, e se é importante, não deixa de ter um imenso potencial despersonalizante.

Porque efectivamente temos “Temos mais preguiça no espírito do que no corpo.” (François La Rochefoucauld), somos levados a não sermos, sendo-o em espelho de uma qualquer norma social, onde para alem da qual não existimos, passando assim a assumir um estado de não existência mesmo existindo. O reflexo que vemos não somos frequentemente nós, é a nossa imagem a executar um conjunto de normas, onde se olharmos bem fundo notamos uma tristeza e apatia imensa e a saudade de SER.

Sabendo, tal como refere Oscar Wilde que “não fazer nada é a coisa mais difícil do mundo, a mais difícil e a mais intelectual.”, é necessário efectivamente muita imaginação, vontade e determinação para conseguir, o culpado é o espirito, o intelecto, que teimam em não deixar que o nada, o vazio, a não existência se apodere de nós. Por isso mesmo fazemos que fazemos para não fazer e fugir do essencial, pensarmos-nos e afirmo-nos. Assim “Os preguiçosos têm sempre vontade de fazer alguma coisa.”( Luc de Clapiers Vauvenargues), a questão é saber se levam a vontade até ao fim, se querem mesmo fazer e se estão na disposição de assumir o esforço do processo e os custos pessoais que ele acarreta.

Sabendo que em muito Alphonse Allais tem razão quando afirma que “Um preguiçoso é um homem que não finge que trabalha.”, poderemos dizer que a mais generalista das classificações do ser humano é essa mesma, até porque muito poucos trabalham mas são muitos os que são trabalhados por si mesmos, são inúmeros os que só têm um inimigo mortal, a sua própria existência que os mantém a fazer que fazem e o que fazem só lhes faz mal, fazendo-o porque se o não fizessem seriam socialmente reprovados.

Em tempos de automatismo, e se soubermos respeitar a preguiça na sua vertente economizado de recursos e de assumir a atitude de ir fazendo, e porque “O preguiçoso é um relógio sem corda.” (Jaime Balmes), teríamos muito menos trabalho a fazer fosse o que fosse, teríamos muito mais estímulos para nos pensarmos, seriamos muito mais em nós do que nos outros e enfim SERIAMOS.

No entanto e muito frequentemente, tal não acontece, e por isso mesmo “Não há quem apresse mais os outros do que os preguiçosos depois de haverem satisfeito a sua preguiça, a fim de parecerem diligentes.” (François La Rochefoucauld), apropriando-se do trabalho deles para assumir protagonismo, assim como muitos chefes que conhecemos.

Enfim, sejamos preguiçosos sem desrespeitar a preguiça e usufruindo de tudo o que ela nos pode trazer – FAZER com ESPERTEZA e INTELIGÊNCIA.

(JPP, 2016. Live your life as a question)